EM BREVE...

Mais notícias sobre o bairro Gardenia Azul.
Aqui você pode conhecer um pouco mais deste bairro que é um lugar acolhedor, apesar das diferenças sociais.

Comunidade No

Favela já nasce com nome e associação de moradores

Jornal do Brasil, Cidade, terça-feira, 10 de julho de 2001


RENATA VICTAL


Fugindo da fome, Silma Maria Santos Silva, de 42 anos, saiu do Maranhão em 1984 rumo ao Rio de Janeiro. Em 1996, uma enchente levou o que tinha construído. Alugou um quarto por R$ 180, mas ficou desempregada e teve que entregar o imóvel. Ontem, com um serrote na mão, colocava de pé seu novo lar. Silma e outras 5.000 pessoas ocuparam dois terrenos particulares em Jacarepaguá, com quase 10.000 metros quadrados cada. Chegaram à meia-noite com lonas, lençóis e pedaços de madeira. Menos de seis horas depois, estava criada a mais recente favela carioca. À frente da invasão está Marco Aurélio França Moreira, o Marcão, mineiro, de 34 anos, que afirma contar com o apoio de pastores evangélicos para manter o acampamento nos dois terrenos. Em agradecimento ao Senhor, os moradores da nova favela se reúnem duas vezes por dia para orar. Sempre acompanhado por cinco homens, que ora diz serem seguranças, ora de uma comissão de moradores, Marcão apresenta os barracos com orgulho e um discurso de político: ''Todos aqui perderam suas casas na enchente de 1996. Agora temos um pedaço de chão.'' Declarando-se surpreso com a invasão, o dono dos terrenos, o engenheiro Paulo Danilo Farina, vai pedir a reintegração de posse à Justiça.

A ocupação dos terrenos seguiu uma ordem meticulosamente planejada com oito meses de antecedência. A invasão começou à meia-noite do último dia 21. Às 6h, cerca de 650 barracos estavam de pé. Precariamente fincadas no chão com pedaços de madeira e cobertas com plástico preto e lençóis, as ''construções'' chegam a abrigar famílias de até 11 pessoas. As mais caprichadas têm telhas. Algumas têm pouco mais de três metros quadrados, quase o tamanho de uma barraca de camping para três pessoas. A nova favela já nasceu com nome - Comunidade Novo Rio -, e com associação de moradores.

O presidente da associação, Marco Aurélio França Moreira, mais conhecido como Marcão, também é uma espécie de líder religioso dos invasores, que se reúnem diariamente às 8h e às 18h para orar. Sempre que ele fala, a comunidade segue, agradece ao Senhor e aplaude. Cercado por seguranças da própria favela, Marcão mostra com orgulho e discurso de político em época de eleição o resultado da invasão que comandou: ''Todas estas pessoas perderam suas casas na enchente de 1996. Eu mesmo cheguei a comer rato frito. Elas moravam de favor na casa de parentes ou pagavam aluguel. Esta área está largada há mais de 20 anos e acabou virando um depósito de lixo. Limpamos tudo e construímos barracos. Agora cada um aqui tem um pedaço de chão''.

Discurso - Foi Marcão quem descobriu, há oito meses, os terrenos vazios ao lado da granja em que trabalha. De boca em boca, recrutou as cerca de 650 famílias que, unidas, ergueram a favela. Ontem, quase 30 homens trabalhavam sob sol forte para construir uma creche. Tudo na Novo Rio funciona em regime de mutirão. A cabeleireira Conceição Aparecida Lourenço, de 43 anos, que se mudou com a família de cinco pessoas para a favela, é uma das voluntárias. Durante a semana ela trabalha no ''salão do seu Menezes'', na Taquara, mas ontem, dia de folga, cortou gratuitamente o cabelo de adultos e crianças da comunidade. ''Vou cortando sem parar, é só sentar aqui que eu faço o serviço'', disse.

Na cozinha, o trabalho fica por conta de Vera Lúcia Macedo, de 47 anos. ''Estou desempregada e por isso dou uma força para o pessoal'', contou Vera, que mora com a filha e cinco netos na favela. Ontem, o cardápio tinha peixe cozido, ensopado de legumes, arroz e feijão. A comida foi distribuída para a comunidade. Tudo obra de Marcão, que disse ter conseguido os alimentos com a Ceasa. ''Graças ao Senhor eles estão ajudando a gente. Pena que a comida que temos só dá para hoje. Pela manhã tive que implorar para conseguir 200 pães, mas valeu a pena'', contou.

Carteirinhas - O presidente da associação de moradores da favela garante que antes da invasão, os terrenos, localizados na Avenida Isabel Domingues, serviam como depósito de lixo. ''Todos os comerciantes da redondeza jogavam lixo aqui. Agora o terreno está limpo e todas as famílias estão cadastradas'', disse Marcão que providenciou carteirinhas com fotos 3 por 4 de cada um dos cinco mil invasores. ''Quando a secretaria de Habitação vier aqui, todas os moradores já estarão cadastrados, não vai ter mutreta, nem como colocar parente de ninguém. Temos uma ficha para cada pessoa''.

Enquanto martela mais um prego no pequeno barraco que está construindo, a desempregada Silma Maria dos Santos Silva conta que pretende abrigar naquele espaço exíguo os filhos que ainda vivem no Nordeste. ''Eles estão passando fome e, se Deus quiser, vou conseguir trazer os dois para perto de mim''.

A ocupação passo-a-passo

PLANEJAMENTO: A organização da invasão, segundo Marco Aurélio França Moreira, o Marcão, começou em novembro do ano passado. Os dois terrenos, com dez mil metros quadrados cada, ficam próximos à granja onde Marcão trabalha como segurança.

COMISSÃO: Um grupo de moradores do bairro de Gardênia Azul, em Jacarepaguá - de acordo com Marcão, todos eles desabrigados pelas enchentes de 1996 - cria a associação que vai promover a ocupação da área.

AÇÃO: Às 23h do dia 21 de junho, cinco mil pessoas se reuniram em frente aos dois terrenos baldios na Avenida Isabel Domingues, em Jacarepaguá.

MATERIAL: Cada família tinha que levar o material para a construção do seu próprio barraco. Uns levaram só lona, outros já chegaram com placas de madeira.

RAPIDEZ: À meia-noite começou a invasão. Seis horas depois, 650 barracos estavam de pé. Cada família construiu sua casa como quis ou pôde. Alguns já levaram até móveis e eletrodomésticos.

Seguranças e pastores

Líder diz ter ajuda de evangélicos e guarda-costas



Solteiro, 34 anos, Marco Aurélio França Moreira, o Marcão, líder da favela Novo Rio, diz contar com o apoio de pastores evangélicos para manter o acampamento nos dois terrenos. ''Não temos mais comida para amanhã (hoje), vou ter que pedir aos comerciantes. Os pastores das igrejas evangélicas do bairro estão divulgando as nossas dificuldades e pedindo ajuda. Já recebemos muitas doações'', conta.

Segundo ele, três pastores moram no terreno recém-invadido. ''Eles fazem o culto e por isso não temos boca-de-fumo e ninguém anda armado por aqui'', garante Marcão. Evangélico, o mineiro que aos 14 anos veio ganhar a vida no Rio de Janeiro, diz que trabalha à noite como segurança de uma granja. De dia, a rotina que descreve consiste em bater de porta em porta em busca de alimentos, roupas e remédios para as cinco mil pessoas que estão sob seu comando.

Forte e alto, Marcão chama a atenção em meio às barracas. Anda sempre acompanhado por cinco homens, a quem ora se refere como uma comissão do acampamento, ora como ''meus seguranças''. Como os demais, afirma ter perdido o barraco que tinha na beira de um rio em Gardênia Azul, Jacarepaguá. A idéia de invadir os terrenos, segundo ele, surgiu por não poder mais pagar o aluguel de R$ 350. ''As pessoas perderam tudo e foi ali que comecei a ajudar todo mundo. Consigo falar com todos, até mesmo com as pessoas das comunidades vizinhas. Sou bem conhecido'', afirma.

Paes exonera assessor

Em solidariedade aos invasores, o secretário da Diretoria de Planejamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente Mário Esteves visitou ontem o terreno de Jacarepaguá. Como político, ele prometeu emprestar um carro e até mesmo levar material de construção para os que ainda têm barracos de lona ou cobertos com plástico. Prometeu ainda montar hoje um posto médico no local para atender as 500 crianças, que pela proximidade com esgoto a céu aberto e péssimas condições de higiene estão quase sempre doentes.

Irritado com as declarações de Mário, o secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Paes, exonerou no início da noite de ontem o assessor. ''A prefeitura é contra a invasão. Estamos tentando tirar aquelas pessoas de lá. Aquilo é um absurdo, um escândalo. A exoneração do Mário vai estar amanhã (hoje) no Diário Oficial'', disse o secretário que completou: ''Aquela turma que invadiu o terreno é profissional. São todos grileiros que se aproveitam de pessoas carentes''.

Antes de saber que estaria fora do governo, Mário dizia que ajudaria os invasores no que pudesse. ''A situação aqui é irregular, mas já que é difícil remover essa gente, vamos fazer de tudo para ajudar. Amanhã (hoje) vou dar uma solução para aquelas crianças, dar um encaminhamento médico'', disse ele que antes de ir embora levou consigo uma lista com as principais reivindicações dos moradores. Apesar dos 10 mil votos que teve nas últimas eleições, Mário Esteves não conseguiu se eleger vereador pelo PMDB. Filiou-se então ao PL, quando conseguiu o cargo na Secretaria municipal de Meio Ambiente.

Proprietário - Os dois terrenos ocupados irregularmente na Avenida Isabel Domingues, em Jacarepaguá, são de propriedade do engenheiro Paulo Danilo Farina, de 63 anos. Ele foi informado da ocupação irregular no fim de semana e, já na segunda-feira, entrou na Justiça com uma ação de reintegração de posse. ''Já vi isso acontecer mil vezes, agora calhou de ser comigo'', lamentou.

O engenheiro preferiu não acionar a polícia para a retirada das famílias do terreno. ''Não é com polícia que se resolve esse tipo de coisa. Vou esperar por uma decisão do juiz'', disse. Farina contou que comprou os dois terrenos - cada um tem 10 mil metros quadrados - em 1976. ''Na época eu tinha uma empresa de engenharia e minha idéia era construir galpões ali para guardar as coisas da firma'', lembrou.

Farina acabou vendendo a empresa e abandonou a idéia da construção dos galpões. Por precaução, no entanto, cercou os dois terrenos com muros. O engenheiro não lembra quanto pagou pelas duas áreas, mas garante que, apesar do tamanho, elas estão bastante desvalorizadas. ''Há uma favela em frente, a uma distância de cinco metros dos terrenos'', disse.

A secretaria municipal de Meio Ambiente tem conhecimento da ocupação, mas informou que nada pode fazer a respeito, uma vez que se trata de terreno particular e a prefeitura só pode agir em áreas públicas.

Fonte: FAVELA BAIRRO


Um comentário:

  1. VIVACRED/CREDIAMIGO
    Proporcionar condições de acesso ao crédito aos micro e pequenos empreendedores, especialmente nas comunidades, do setor formal ou informal da economia, buscando desse modo promover o desenvolvimento econômico e a integração social no Rio de Janeiro com empréstimos para investimento. Confira um plano de financiamento: Pegando:R$ 900,00 paga-se em 6 parcelas Fixas de R$ 162,20
    Assessora de crédito do Bairro Gardênia Azul Lucélia: 2495-6443
    Coordenadora: Carla Frazão
    BONS NEGÓCIOS!!

    ResponderExcluir